Em 17 minutos o mundo irá acabar. Em exatos 1020 segundos, tudo o que já foi conhecido terá um fim, irremediável. Como eu sei disso?! Eu sei. O que importa. Ninguém perguntou ao Bill Gates por que ele sabia que computadores seriam o futuro e também ninguém perguntou para o bebê como ele sabia quem era a mãe. Eles sabiam. E eu sei! Bem, na verdade, eu não sei de uma forma tão instintiva ou passional assim, eu somente sei. E sei, porque me foi revelado. Sim, uma visão de um outro mundo apareceu para mim em sonho, um que Sandman não deixou que se esvaísse em sonolência. Ele não me permitiu acordar até que eu dissesse sim, até que eu aceitasse a proposta.
Aquele ser, diferente de tudo o que poderia imaginar, invadiu meus sonhos (com a miserável autorização do mago de areia) e me ofereceu – ou ordenou – a “missão”. Nunca imaginei que qualquer coisa semelhante ao imortal ou às divindades fosse daquele jeito. Não era um jovem louro, alto, forte e destemido. Ao contrário, era um homenzinho franzino, pequeno e esquálido. Velho? Talvez uns milhões de anos, mas aparentava não ter mais do que 200. E quando digo isso é porque não posso imaginar nada mais velho. Ta bem, ele era velho. E baixo, quase anão. Tinha aquele pele, clara e escura. Não sei explicar. Eram como escamas escuras que cobriam perfeitamente uma imensidão de pele clara, tão clara que nem parecia existir.
O fato é que, nesse contexto e “enuviado” por essas coisas estranhas que emaranham os sonhos, ele me disse. Foi como um, como se diz mesmo... Ultimato! Um aviso, uma sentença. E eu acordo.
17 minutos. Esse é todo o tempo que eu tenho. Não... Eu não posso salvar o mundo, nem posso fazer nada por ele. Só eu vou viver, sobreviver. Minha missão, agora, é esperar. E eu sento num canto do quarto. Me cubro porque, apesar da expectativa do fim, apesar de meu coração pulsar tanto em meu peito que parece que vai sair de lá, sinto frio. A contagem começa. E também minha missão. Esperar... Mas por quê? Eu penso, penso... Mas não entendo. Que tipo de missão é essa?! Isso simplesmente não tem fundamento.
Agora restam 14 minutos. Será que ainda estou sonhando?
Eu levanto e passo a analisar as coisas. Minha casa, minha janela... Chego até ela e olho pra fora, olho para o mundo. 9 minutos...
Saio para a rua... O mundo começa a passar por mim. Posso ver tudo.
Uma menina cai de um balanço pequeno e seu pai a abraça. Um cachorro corre por um grande milharal e alcança alguma coisa, um pato grande se debate na água, mas desiste de viver. Um padre caminha perto de um altar e uma mãe chora perto de um bar. Um jogo começa em algum lugar que eu não lembro de conhecer. Uma explosão, medo. Um jovem casal passeia de bicicleta pelo parque. Uma velhinha sorri.
As imagens se misturam, o mundo todo se mistura. Tudo parece desaparecer.
3... 2... 1
Abro meus olhos. Só vejo o nada. Eu posso explicar como ele é. É tão... Tão...
VOCÊS NÃO ENTENDEM!!!
Alguma coisa repuxa minha calça. Eu olho para trás e lá está ele. Aquela mesma figura, em seu resto de alguma coisa que poderia querer chamar de roupa. Ele fede.
Então me avisa. – É agora.
E eu entendo a missão. A decisão é minha. O mundo é meu e eu devo fazer dele o que eu quiser. É assim, simples.
Eu penso, e uma música aparece. Primeiro tímida, baixinha. Depois ela aumenta. E aumenta ainda mais. Eu paro. Eu danço. E sigo dançando, não consigo parar de dançar. E o nada me abraça, me toma, me doma, me acalma. Eu danço pelo nada, com o nada, através do nada. Nada importa.
E eu danço, sorrindo...
Esse é o caos!
By Laura Storch