Hoje, porém, os tempos são bem menos românticos e as coisas voltaram a mudar. Não é por acaso que, atualmente, em vez de parecer que tudo existe para ser contado em um livro, tem-se a impressão de que só acontece aquilo que é exibido em uma tela. Nessa mutação, não só deixou de ser necessário que a vida em questão seja “extraordinária”, como também não é mais um requisito imprescindível que ela seja “bem narrada”. Pois é a tela – ou a própria visibilidade – que concede o brilho extraordinário à vida comum recriada na mídia. É a lente da câmera, são os holofotes e os flashes que criam e que dão consistência ao real. Hoje a mídia não se cansa de apregoar que qualquer um pode ser famoso, e até mesmo os “famosos” de outrora e de hoje em dia são resgatados em seus papéis de qualquer um; são festejados nas telas e em outros suportes com esplendor midiático por serem comuns, escancarando e ficcionalizando a sua intimidade banal embora – e provavelmente por isso mesmo – atraente aos olhos dos outros.
Paula Sibilia