10 janeiro 2007

Matrioskas de doidos...







As teorias da terra oca são duas. Para a primeira, moramos na crosta, mas no interior há outro mundo, que desconhecemos, no qual está o reino do misterioso Agarttha, sede do Rei do Mundo. Para a outra, nós acreditamos habitar a crosta exterior, mas de fato habitamos o interior (ou seja, acreditamos habitar uma superfície convexa, mas, de fato, habitamos uma superfície côncava). Uma das primeiras teorias da terra oca foi proposta em 1692, por Edmond Halley (sim, o do cometa), sugerindo que a terra seria composta por quatro esferas, encaixadas uma dentro da outra, como as bonecas russas, as matrioskas, e o planeta inteiro seria habitado e iluminado por uma espécie de atmosfera leve.

Mais tarde, o famoso matemático Eulero substituiria a teoria das esferas múltiplas pela teoria de uma única esfera , côncava e vazia, contendo um sol que aquecia e iluminava uma civilização avançada. A teoria foi proposta mais uma vez no começo do século XIX pelo capitão J. Cleves Symmes, de Ohio. Na Academia de Ciências Naturais da Filadélfia ainda se conserva a maquete, de madeira, de seu universo. Segundo Symmes, no Pólo Norte e no Pólo Sul havia duas aberturas que levavam para o interior do globo, e para identificá-las ele tentara reunir fundos para uma exploração das regiões polares. A idéia fora retomada por um editor de jornais, Jeremiah Reynolds, que se tornara um zeloso promotor da expedição à custa do governo americano e investira U$ 300 mil na empreitada. No final do século, certo Cyrus Reed Teed retomou a teoria, especificando que o que nós acreditamos ser o céu é uma massa de gás que preenche o interior do globo, com algumas regiões de luz brilhante (Sol e Lua e estrelas não seriam globos celestes, mas efeitos visuais). Afirmou-se que a teoria de Teed seria de difícil contestação pelos matemáticos so século XIX porque era possível projetar a superfície convexa da Terra sobre uma superfície côncava sem que se notasem muitas discrepâncias.

Segundo algumas fontes, a teoria fora levada a sério por alguns hierarcas nazistas adeptos das ciências ocultas, e em alguns ambientes da marinha germânica se considerava que a teoria da terra oca permitia estabelecer com maior exatidão as posições dos navios ingleses, porque, se fossem usados raios infravermelhos, a curvatura da Terra não ocultaria a observação. Hitler teria iniciado uma expedição para a ilha báltica de Rugen e, ali, certo Dr. Heinz Fischer teria apontado uma câmara telescópica em direção ao céu para a identificação da frota britânica que estava navegando no interior da superfície convexa da terra oca. Dizem até que alguns lançamentos de bombas V1 foram errados justamente porque se calculava a trajetória partindo da hipótese de uma superfície côncava e não convexa.


Umberto Eco



Doideiras a parte, Eco conta as baboseiras teóricas dos séculos passados exatamente para nos alertar sobre este outro lado da ciência... Existiu "uma série de doidos, de utopistas ate geniais, de cientistas que apostaram a vida toda numa hipótese falsa, que agora foram parar no esquecimento da história, mas em sua época haviam conseguido um grande sucesso".

Mencionarei o caso do professor Blondot que descobrira os raios N, obviamente inexistentes, e assim agitou totalmente o ambiente científico de sua época; William Ireland, considerado idiota até por seu próprio pai, que no século XVIII enganara a Inglaterra toda inventando textos e manuscritos, documentos e obras inteiras de Shakespeare; até aquele Sudre, inventor e apóstolo do solresol, uma língua universal, acessível até para os cegos, composta apenas de notas musicais (Sudre, porém, ainda é recordado por todas as histórias das línguas artificiais).


Umberto Eco salienta que "meditar sobre as teorias excêntricas, que por muito tempo foram levadas a sério, é algo que nos ensina a desconfiar também de muitas idéias que hoje têm plena circulação pela mídia, e até em certos ambientes científicos".

Por outro lado, se pesquisarem a locução "hollow earth" (ou seja, terra oca) na internet, descobrirão que ainda hoje existem por aí muitos adeptos das duas versões...


Ai, ai, ai, caramba!!