30 maio 2006

Por que Jornalismo???




Já me perguntei isso... É normal!
Mas será que tem um sentido?!
Se existir, não pode ser outro que esse:




"Passeio pelas ruas desmoronando-se
em delapidados esgotos
Por entre prédios de que se foge
pois caem-nos em cima
Por entre toscos rostos que nos medem e condenam
Por entre lojas fechadas
Mercados fechados
Cinemas fechados
Jardins fechados
Cafés fechados
Exibindo, às vezes, cartazes
Justificativas poeirentas:
Fechado para obras
Fechado para reformas
Que tipo de reformas?
Quando termina a tal obra, a tal reforma?
Quando irá começar?
Fechado, fechado, fechado
Tudo fechado
Chego, abro inúmeros cadeados
Subo correndo a improvisada escadaria

Ali está, ela! Me esperando...



Encontro-a, destapo-a
e contemplo a sua poerenta e fria forma
Sacudo o pó e a acaricio
com pequenas palmadas limpo-lho o lombo
a base, os lados
Sinto-me desesperado, feliz ao seu lado
De frente para ela, passo as mãos no teclado
e rapidamente tudo começa...

Com o ta-ta e o tilintar
a música começa, pouco a pouco
Agora mais rápida
Agora a toda velocidade

Paredes, árvores, ruas, catedrais, rostos e praias
Celas, mini-celas, grandes celas
Noites estreladas, pés descalços, pinhas, nuvens
Centenas, milhares, um milhão de papagaios
Bancos e uma trepadeira
Tudo acode
Tudo vem
Tudo se aproxima

As paredes recuam
o teto some e flutua naturalmente
flutua desenraizado, flutua arrancado, arrastado
elevado, levado, transportado
imortalizado e salvo
Graças a essa inaldível e constante cadência
por essa música
Por aquele ta-ta incessante..."

Reinaldo Arenas


As palavras são o sentido e a mudança é o sentido, como as barreiras são o sentido!
Não pode haver outro...